+ Dom Francisco Merkel CSSp*
Irmãos e Irmãs de caminhada,
Nossa
Diocese passa por outro momento difícil. O descongelo de montanhas na Bolívia e
precipitações pluviais abundantes transformaram nosso Rio Madeira num mar em
movimento. Sofremos uma das maiores enchentes de que se tem lembrança. As águas
barrentas se espalham por todo nosso território, penetram as matas, rejeitam a
contribuição dos afluentes, vingam-se
das habitações construídas às suas beiras. Comunidades inteiras sumiram do
mapa. Plantações feitas com muito suor e com olhar de esperança se desfizeram
debaixo das águas impetuosas. Na cidade as águas começaram a cobrir trechos mais baixos de ruas
asfaltadas. - As notícias de Porto Velho tornaram-se alarmantes.
Temporariamente, o trânsito dos ônibus entre Humaitá e Porto Velho foi
interrompido. Mais que 10 bairros em Porto Velho encheram-se com água e
obrigaram seus moradores a sair...
Chegaram
centenas de famílias do interior, seja da beira do rio Madeira, seja da beira
da Transamazônica. Em Humaitá, Prefeitura, Defesa Civil, SEDUC começaram a
disponibilizar escolas e colégios. A maioria das famílias em fuga, porém,
encontrou lugar junto a parentes e amigos na cidade. Muitas vezes só conseguiu
salvar roupa e alguns eletrodomésticos, às vezes também algum móvel.
Graças
a Deus, as diversas instituições que integram o Estado começaram a se
movimentar. Não faltam nem colchões nem comida. Falta material de limpeza. Aguardamos
medicamentos e outros utensílios. Mais
tarde – madeira e ferramentas para reconstruir as casas e recomeçar o plantio.
Será preciso conceder uma ‘bolsa’ às famílias enquanto não tiverem uma fonte de
renda própria. Também créditos a juros baixos serão necessários. O período
depois desta ‘calamidade pública’ vai desafiar a solidariedade da sociedade e
políticas sociais da parte dos governos. Graças a Deus, os recursos públicos e
particulares amenizam os estragos e sofrimentos muito mais do que na última
enchente deste porte – em 1953.
No
entanto: Há ainda outro apelo naquilo que está acontecendo: O testemunho da
nossa fé e de nossa esperança deve completar a caridade. Não bastam cestos de
alimentos. Importa nossa presença respeitosa. Nossas palavras de ânimo e
confiança. Nossa atenção e nossa oração. Porque não rezar juntos? Ler um texto
da Sagrada Escritura? Formar grupos de oração e leitura partilhada? Contar uma
experiência da providência divina? E onde há uma família católica – porque não
recorrer ao Terço? Não é possível que este sofrimento não resulte num crescimento
espiritual para todos nós!
Papa
Francisco nos ofereceu na solenidade de Cristo Rei do Universo uma longa carta
(Exortação Apostólica) com o título sugestivo: “A Alegria da Evangelização. Ele
destaca que os primeiros destinatários da Boa Nova são os Pobres. Ele afirma
que há um vínculo indissolúvel entre a fé cristã e os Pobres” (EG 48). Ora,
estas famílias que perderam quase tudo – não anelam por uma Boa Nova? Nosso
testemunho de Fé em Jesus Cristo e no Pai amoroso e previdente é indispensável.
Não substitui a prática caritativa, mas também não pode ser substituída por
dinheiro algum. O anúncio do amor de Deus que manifesta toda a sua grandeza na
pessoa de Jesus Cristo acaba sendo exigência da própria caridade. Seria uma
grande discriminação se dispensássemos o cuidado espiritual, nestas horas (Cf.
EG 200). Vamos dar de nossa pobreza - em nome de Jesus Cristo!
*Bispo da Diocese de Humaitá-AM
Abaixo algumas fotos de como está a cidade de Humaitá-AM
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