Irmãos e Irmãs de caminhada:
Paz e Bem!
O desaparecimento dos três
cidadãos humaitaenses, S.P., A.R., L.C.,
na reserva indígena Tenharim aos dias 15 de dezembro 2013 (sequestro e execução?),
não gerou apenas depredação de bens públicos, mas também manifestou as
superficiais e precárias relações entre indígenas e não-indígenas em nossa
região (talvez até no Brasil). A mídia se encarregou de noticiar o pouco que se
sabe dos fatos, entrevistas, interpretações... Ouvi o início de uma notícia
veiculada em uma rádio de São Paulo: “O povo de Humaitá declarou guerra aos
Indígenas...” Arrepiei-me ao ouvir isto, pois faço parte da história de Humaitá
desde 2000. Defendemos o compromisso da Igreja Católica tanto com os Povos
Indígenas quanto com a reconciliação e a paz de todos os seres humanos – ainda
mais quando se trata de pessoas batizadas em nome da Santíssima Trindade.
É
bom lembrar que os primeiros missionários vieram da Europa para trazer à
população do continente americano a Boa
Notícia da salvação e da vida plena em Cristo. Vieram com a melhor intenção
querendo obedecer ao mandato de Jesus Cristo: “Ide a todo mundo e fazei
discípulos todos os povos!” Houve muitas falhas, sem dúvida. No entanto, quem
soube acolher a Boa Notícia ficou
mais feliz, porque se abriram novas perspectivas – do amor incondicional de
Deus até a plena comunhão na eternidade, da igualdade perante Deus e da
dignidade humana independente de alguma etnia ou povo. Sem dúvida, o
cristianismo formou o perfil dos povos latino-americanos
Passaram
séculos. O mundo mudou. A Igreja, eterna discípula e sempre em processo de conversão ampliou sua
visão de sua missão no mundo. Quanta coisa bonita nossa Igreja aprendeu – às
vezes a duras penas! Ela não passa de um vaso de argila que carrega um
tesouro... Como cada cristão: Vaso de argila... (cf. 2 Cor 4,7) É de admirar
que Deus nos confiou este tesouro – a nós que somos administradores infiéis (cf. Lc 16, 1) até de bens menores do que o
tesouro da vida divina! –
Bem,
após os tristes acontecimentos na Transamazônica fica a urgente pergunta: Como
vamos reagir àquilo que dividiu nossos povos colocando-os frente a frente? O
desafio é - após a elucidação dos acontecimentos, identificação dos criminosos,
punição de acordo com a Lei: Construir um plano de segurança e paz para todos
os moradores desta região, independente de sua pertença aos grupos de Indígenas
ou Não-Indígenas. Afinal, todos nós queremos viver. É um direito fundamental. E
há outro direito constitucional: O de ir e vir pelas estradas públicas do país.
Quero propor 13 passos para este Plano de Paz e incentivar a
todos os leitores a dar sua contribuição sempre pensando nos dois lados:
1)Difundir a legislação referente aos povos indígenas como foi
formulada na Constituição
de 1988;
2)Introduzir de acordo
com a Lei 11.645 de 10 de março de 2008 – a matéria de
cultura indígena, seja na rede da SEMED, seja na rede da SEDUC;
3)Incluir na grade curricular dos povos indígenas a matéria
Organização Social e Política
Brasileira;
4) Promover seminários que informam e fazem compreender, que
suscitam debates e promovam estudos sobre
as riquezas e carências das diversas culturas;
5)Garantir nas aldeias estabelecimentos apropriados para o
ensino escolar e para o atendimento de
saúde. Proporcionar energia elétrica e poços de água potável;
6) Substituir a cobrança de taxas de compensação (pedágios) ao
longo da BR 230
por recursos do Governo Federal vinculados a projetos de auto-sustentaçãestimulando a força produtiva das famílias e das
comunidades indígenas;
7)Nenhuma barreira impeça os viajantes a parar e se identificar;
8)Transferir as aldeias da beira para dentro da área indígena
(alguns quilômetros) para protegê-las
contra visitas não desejadas (exemplos: os Parintintins na Pupu nha e no Rio Traíra Km 37;
9)Criar uma comissão mista e permanente que dirima os
conflitos e trata deles logo que
surgirem. Esta comissão deve contar com partes iguais entre indígenas e não-indígenas. - A soberania dos
indígenas não deve se estender sobre a BR
230 incluindo a margem de 30
metros a cada lado como reza a cartilha do DNIT;
10) Criar um posto permanente da Polícia Feral Rodoviária na
encruzilhada do Km 150 que garanta a
segurança dos transeuntes, a coibição do tráfego de armas, drogas, transporte ilegal de madeira...
11) Permitir a entrada em alguma aldeia somente a quem recebeu um
visto da FU NAI.
12) Abolir privilégios nos Postos de Saúde e departamentos públicos
com a exceção daqueles que se concedem às
gestantes, aos idosos, enfermos etc.
13)Proibir o porte e o uso de armas de fogo (não-autorizadas) seja
dos indígenas, seja dos não-indígenas
na área considerada do domínio do
DNIT, no percurso da BR 230 pela Reserva
Indígena;
Eis
alguns passos que podem ajudar. Contudo, é preciso desenvolver uma cultura de
reconciliação, de diálogo e de paz. Para nós Cristãos, o próprio Cristo é O Caminho
A Verdade e A Vida. Quero ainda recordar (e recomendar a leitura da) a bela mensagem
do Papa Francisco para o Dia Mundial da Paz: Fraternidade, fundamento e caminho para a Paz!
+ Francisco Merkel CSSp*.
Diocese de Humaitá-AM/Brasil
0 comentários:
Postar um comentário