sábado, 28 de dezembro de 2013

Sobre a situação em Humaitá - Dom Francisco Merkel

Irmãos e Irmãs de caminhada:
Paz e Bem!

          Escrevo este artigo nas vésperas do Ano Novo - chocado ainda pelos acontecimentos que lançaram sombras sobre as festas natalinas nesta Diocese. Todo mundo sabe do sumiço de três cidadãos na BR 230 depois do dia 15 de 12. Mas ninguém sabe precisamente o que aconteceu. Sabemos da dor dos familiares que ficaram sem notícias sobre o paradeiro de seus parentes e se ainda estavam com vida ou se já morreram. Da parte da Polícia Federal e da FUNAI não houve empenho convincente na elucidação dos fatos. Não é a primeira vez que fatos tristes ficam sem a devida atenção por parte das autoridades constituídas para cuidar da segurança pública.

            A lentidão ou o desinteresse da Polícia Federal, da Fundação Nacional do Índio, da Promotoria Pública frustraram familiares, parentes e amigos. Esgotou-se a paciência de uma boa parcela da população e gerou-se o plano de uma manifestação pacífica. Bloqueou-se a travessia sobre o Rio Madeira. Ora, o acesso à Transamazônica é vital para quem quer viajar às cidades de Apuí e Santo Antônio do Matupí, às aldeias indígenas ou chegar à sua casa à beira da Estrada BR 230 – todos ficariam penalizados com este bloqueio. A intenção foi clara: Chamar a atenção dos governantes em nível Estadual e Federal: Os cidadãos desta parte do Amazonas merecem a mesma atenção e o mesmo amparo que os outros cidadãos neste vasto país. Desde a demarcação das terras, o pedágio imposto sem negociação (outubro 2006) até o desaparecimento de várias pessoas se criou a sensação de impotência e de ausência do Estado. Também os povos indígenas reclamam de uma política antiindigenista! - Até onde o Estado cumpre seu papel? E quem pode pedir satisfação dele no momento do descumprimento?

           

Dá para perceber que a revolta não foi – simplesmente – de Brancos contra Índios. Explodiu a frustração também contra um aparato anônimo que se chama Estado. Quantas vezes a população se depara com funcionários que mal atendem, não informam corretamente, não zelam pelo encaminhamento de documentação, não prestam conta dos recursos públicos, enfim parece que ninguém é responsável por nada. A computatorização aumenta esta sensação de impotência. Parece que o cidadão só é bom para pagar impostos...

            Ora, o potencial que se descarregou nestes dias causando destruição do patrimônio público, poderia ser empregado para a reorganização de nossa sociedade local. De certa forma vivemos em clima de paz, somos cristãos, não passamos por uma situação de miséria material, temos estruturas e instituições que, embora não perfeitas, prestam alguma ajuda para um convívio decente. O que falta? – Quero apontar alguns itens que me parecem importantes: Precisamos de lideranças que continuamente aperfeiçoam seu papel, que têm agudo grau de consciência ética, que juntam coragem com persistência. – Devem ser pessoas que sabem escutar, refletir, partilhar com outras pessoas de bem, elaborar uma estratégia para conseguir os objetivos e que sempre prestam a informação necessária (transparência) para contar com o povo como aliado. E também da parte do povo precisamos das atitudes de escuta e reflexão, debate e participação - da fiscalização das obras e da prestação de contas. Recordo com saudade da matéria de Organização e Política (OSPB), Moral e Cívica nas escolas. Ou da instituição de Ouvidorias. É urgente repensar a maneira de fazer política e elaborar leis. – O ano eleitoral está aí. Vamos testar o grau de consciência e ética dos nossos representantes antes de dar nosso voto. Somente um belo programa de partido não basta! -     
+  D. Francisco Merkel


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