Irmãos e Irmãs de caminhada
Escrevo esta minha mensagem nas
vésperas da festa da Santíssima Trindade. É uma festa diferente de outras
festas como Natal, Pascoa, Pentecostes ou as festas de santos padroeiros. Não é
uma festa que tem um lugar de destaque na religiosidade popular. No entanto, a Igreja
convida a si mesma a contemplar e admirar os fundamentos da fé crista. Sem este
fundamento, a própria Igreja perde seu fundamento último. Ou digamos que
celebramos a essência de nossa fé: O único Deus se manisfesta em três pessoas
diferentes, profundamente unidas. Onde o
Pai está, está o Filho, está o Espírito Santo. Onde e quando um atua, os outros
dois participam. Embora diferentes, nunca estão separados um do outro.
Se esta reflexão pode nos levar a ficar ‘tontos’, o olhar para a Sagrada Escritura nos ajuda a reconhecer esta verdade. Jesus Cristo nos fala com frequência e simplicidade do Pai e trata do Espírito Santo de uma pessoa diferente, mas igualmente comprometida com a salvação humana. Ora, se cremos que fomos feitos à imagem e semelhança de Deus, que é um só e ao mesmo tempo três pessoas, com suas características próprias, suas maneiras de agir e se fazer presente, então tudo isso deveria ter seu reflexo também nas pessoas humanas. Evidentemente, só se trata de um reflexo - talvez semelhante ao sol que se reflete na água sem ter a natureza da água. Certamente o mistério de Deus supera tudo que se possa imaginar, mas ele está presente e se reflete na pessoa humana, obra de Deus.
Recordo comentários no início das
celebrações deste dia falando em Santíssima Trindade - a melhor comunidade. É
algo assustador pensar que a Igreja e nossas comunidades deveriam viver uma
profunda comunhão de seus membros sem apagar a individualidade de cada membro.
Mais, a Igreja foi instituída (criada) por Jesus Cristo para viver a comunhão
que Ele tem com o Pai: “Que eles sejam Um como Tu e Eu somos Um.“ Portanto, a formação do cristão deve ter como
objetivo viver, aprofundar e ampliar constantemente a união indissolúvel com
Deus, com os irmãos e as irmas. A própria salvação é oferecida ´a vós e a
todos´. Deus quer salvar um pelo outro, a humanidade pela Igreja. Ninguém se
salva sozinho.
Dai resulta que precisamos cuidar
muito mais deste aspecto comunitário na formação catequética, na escolha dos
líderes (incluindo os ministros ordenados), no trabalho dos movimentos e dos
serviços: Promover e aprofundar a comunhão entre nós ‘por Cristo, com Cristo e
em Cristo’. As estruturas de nossas comunidades estejam a serviço da comunhão e
participação de todos, do diálogo e do respeito com todos.
Dói ouvir quantas pessoas ‘não
tem coragem e estão com medo’ para falar o que sentem e o que desejam. Quantas
vezes estas pessoas nem sequer partilham experiências bonitas no campo da
experiência de Deus e da caridade humana! Quantas vezes pessoas se afastam de
nossas comunidades porque não fazem nelas a experiência que formamos um só
corpo, sendo membros uns dos outros! Quantas vezes pessoas acham que podem se
´salvar´ longe de uma comunidade de fiéis. - Ora fomos feitos uns para os
outros para juntos formarmos o povo de Deus, nesta e na outra vida!
Há testes da autenticidade desta
comunhão. Uma comunidade que apaga as diferenças e a individualidade de seus
membros, não é uma comunhão autêntica. Quando as pessoas se sentem espremidas,
‘instrumentalizadas’, tratadas como pessoas de segunda categoria, fogem da
comunidade. Quando as pessoas se sentem valorizadas, respeitadas e amadas,
permanecem na comunidade. Do outro lado,
quando as pessoas em busca de sua própria valorização e promoção se
‘aproveitam’ da comunidade, elas demonstram sua deformação e imaturidade. Jesus
Cristo aborda este tema provocador de uma clareza singela: Se alguém quiser ser
o primeiro numa comunidade, coloque-se no último lugar e sirva a todos!
Gracas a Deus temos estas pessoas
em nossas comunidades. São tao humildes e prestativas que nem sequer percebem. Contentam-se
em fazer os serviços mais simples sem alarde, sem cobrança. Estão felizes quando tudo
dá certo e todo mundo fica satisfeito. Unem-se a Cristo que está em nosso meio
como aquele que serve! Sem estas pessoas, dificilmente uma comunidade se forma
e sustenta. Ora, Jesus Cristo insiste junto aos seus discípulos que todos eles tenham o mesmo espírito. A
configuração do Cristão com Cristo, sacramentada pelo batismo, pela crisma e
pela Eucaristia só será completa se procurarmos viver o serviço na comunidade,
dia por dia!
Dom
Francisco Merkel
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