4º domingo da Quaresma 2012 "PROCLAMAR A FIDELIDADE DE DEUS MISERICORDIOSO"
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7:15 PM
O tempo de quaresma é destinado, pela antiga tradição da Igreja, como um momento especial da experiência do amor misericordioso de Deus. Essa tradição, por sua vez, insere-se numa tradição ainda mais antiga que a primeira leitura deste domingo (2 Cr 36,14-16.19-23) evidencia. O trecho é considerado pelos estudiosos da Bíblia uma interpretação ‘sacerdotal’ da história de Israel.
As consequências do afastamento de Deus e o não dar ouvidos aos profetas gerou uma situação de miséria que agora Deus, pela sua própria iniciativa, reverte. A libertação do povo de Deus do cativeiro de Babilônia, através do Ciro, rei da Pérsia, é vista como ato divino a favor do seu povo.
Fiel a essa antiga tradição interpretativa do povo de Deus, Apóstolo Paulo, na segunda leitura deste domingo (Ef 2,4-10), entende o ‘evento Cristo’ como mais um ato da fidelidade de Deus que se exibe no amor misericordioso para com toda humanidade em Cristo.
No evangelho lido neste domingo (Jo 3,14-21) Jesus dialoga com Nicodemos, um dos mestres de seus dias que lhe procurou na escuridão da noite numa tentativa de captar melhor a mensagem da vida nova do rabino de Nazaré que já tinha tornado num personagem controvertido.
A comunidade que deu origem ao Evangelho de João faz a interpretação: Deus age na pessoa de Jesus de Nazaré para salvar o ‘mundo’. O ‘mundo’, que o Nazareno salva com sua práxis, sua morte oriunda dessa práxis e a ressurreição, denota a realidade humana em toda sua profundidade.
O agir de Jesus de Nazaré dentro dessa realidade provoca uma crise na história humana. Todo o Evangelho de João é marcado pela tensão que esta crise gera. O Nazareno provoca o mestre de Israel para uma interpretação inusitada do episódio de Moisés levantar a serpente no deserto. Nicodemos, assim como todos os interlocutores de Jesus no Evangelho de João está num nível diferente e não consegue apreender o que o rabino de Galiléia comunica.
As leituras na liturgia deste tempo de quaresma são organizadas como uma catequese batismal, pois a Igreja na sua busca de ser discípula fiel ao seu Senhor dá a formação aos que procuram ingressar nela para o grande momento da decisão que é o Batismo na Vigília Pascal. A mesma liturgia também prepara seus fiéis para a renovação das promessas batismais na mesma Vigília o que visa aprofundamento no seguimento de Jesus.
O momento do Batismo, um momento da decisão (crise) como também o de renovação das promessas batismais é um momento da crise (decisão).
Desejo de uma compreensão mais profunda do compromisso batismal levou a Igreja no Brasil realizar uma campanha anual sobre uma dimensão da vida dos cidadãos, há décadas, e este ano essa campanha procura ‘converter’ a saúde pública, quer dizer, que a questão de saúde pública seja tratada como uma manifestação do amor misericordioso do mesmo Deus que libertou seu povo do exílio babilônico outrora.
Após o Concílio Vaticano II há uma valorização maior da dignidade do batizado, ungido e inserido em Cristo sacerdote, profeta e rei. O tempo de quaresma é um tempo apropriado para aprofundar o exercício dessa dignidade em nosso mundo.
O momento eucarístico da comunidade tem especial importância na interpretação dos eventos da vida quotidiana, pois aqui descobrimos à luz da Palavra de Deus como o amor misericordioso de Deus se faz presente de maneira real na cultura contemporânea que se orgulha com suas conquistas tecnológicas, ao mesmo tempo precisa ser lembrado da inabalável fidelidade de Deus de misericórdia.
Eis aqui o lugar da interpretação ‘sacerdotal’ da história contemporânea!
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