quinta-feira, 30 de junho de 2011

Palavras de nosso Pastor


No dia 22 de maio p.p. completei, com gratidão, 40 anos de ordenação presbiteral. Foi neste dia que um Bispo auxiliar de Colônia, na Alemanha, veio à nossa comunidade Espiritana em Knechtsteden/ Alemanha, para ordenar nosso pequeno grupo de três diáconos. – Depois da ordenação presbiteral nos dividimos: Um foi para a África do Sul, outro permaneceu na Alemanha, e eu vim para o Brasil. Meu destino era a Prelazia do Alto Juruá que eu conhecia apenas pelos missionários que, durante as suas férias, percorriam os nossos seminários menores, para despertar o entusiasmo missionário nos corações dos adolescentes e jovens.  

O primeiro ano (1973) naqueles confins do Brasil não foi fácil para o jovem missionário de 29 anos. Graças a Deus, o Pároco do lugar e eu nos entendemos bastante bem. Além das visitas pastorais, chamadas de ‘desobrigas’ pelo vasto interior, habitado pelos seringueiros com suas famílias, atuamos na vila de Porto Valter: Na formação religiosa e no ensino escolar, no atendimento aos enfermos e na extração de dentes, na criação de animais e numa cooperativa de compra e venda, no cultivo de hortaliças e – por dois anos – na administração de um pequeno seringal... Sofremos com a tarefa de transmitir ao povo, em sua maioria analfabeta, a rica mensagem da Palavra de Deus; despertar a compreensão pelo sentido dos sacramentos e da pertença à nossa Igreja... Mas com o passar do tempo descobri que havia muita gente de fé e de um heroísmo que deixavam o jovem missionário envergonhado. Não há dúvida, o pobre, quando vive profundamente unido a Deus, tem muito a evangelizar. Afinal, é Ele que vive o que nós pregamos: Fé incondicional em Deus e caridade para com o necessitado.

Após outra breve experiência em Eirunepé/ AM, fiquei doente. Veio a transferência para Salete/ Santa Catarina, Diocese de Rio do Sul. Devia ser o diretor do seminário menor dos Espiritanos do Brasil. Muitos adolescentes e jovens de 11 até 23 anos, filhos de colonos de origem alemã, italiana e polonesa, da 5ª série até a conclusão do ensino médio. Foi naquele tempo que conheci as Irmãs Catequistas Franciscanas e as Irmãs Franciscanas do Apostolado Paroquial/ Lages/ SC.

Em princípio de 1983, mudei para Belo Horizonte - Contagem. Na periferia iniciamos a formação filosófica de nossos estudantes. Meu colega holandês ficou responsável pela formação, eu me dedicava mais ao acompanhamento de quatro comunidades. Foi um tempo de intenso trabalho pastoral e – social. Em todas as comunidades criamos um trabalho em prol das crianças, participamos da formação de associações de bairros, construímos capelas e centros, promovemos cursos de formação de leigos com os próprios leigos. Recordo com gratidão àqueles anos 83 - 87.

Os dois anos seguintes me viram na Alemanha. Dentro do plano traçado pelos superiores passei trabalhei em seminários de formação, finais de semana em Paróquias – partilhando experiências pastorais e culturais, suscitando espírito missionário, pedindo apoio para nossas obras. – Foi válido e bom, mas não me satisfez. 

Recebi a licença para voltar e começar no litoral da Bahia, próximo de Salvador. No entanto, houve a solicitação para eu acompanhar a vinda de jovens alemães que queriam conviver, cooperar e compartilhar uma vida inserida em outra cultura e outra caminhada eclesial. Aliás, tudo naquele pedaço da Bahia era diferente. Não faltaram dúvidas a respeito do caminho pastoral a escolher. Mas pouco a pouco se estabeleceram amizades com o povo que tornaram aquele tempo precioso em minha história. Importante neste percurso foi, novamente, a presença de Irmãs, entre elas as Franciscanas Marianas Missionárias, que acabaram vinda para a Diocese de Humaitá.  

A próxima etapa me levou à cidade de São Paulo. Acompanhamento de sete estudantes de filosofia e colaboração pastoral em comunidades paroquiais da periferia. - Admirei os operários da periferia que, em meio a tantas dificuldades, fizeram nossa Igreja caminhar. Também este foi um tempo de ricas experiências - desta vez junto com meus colegas espiritanos. Como me fez bem! - No final daquele mesmo ano, juntei novamente meus pertences e viajei para Santa Catarina. A nova missão seria o Santuário Nossa Senhora da Salete.

O Morro de Nossa Senhora, 200 metros acima da cidadezinha com o mesmo nome é um lugar muito bonito. Eu estava disposto para ficar lá e levar adiante, junto com um colega, uma pastoral de santuário até que Deus me chamasse. O lugar me cativara. Logo iniciamos a construção de uma bela capela, em forma octogonal. - Poucos meses antes de fazer a entrega da capela, D. José Balestieri, Bispo da Diocese de Rio do Sul me entregou a carta de nomeação para ser seu sucessor em Humaitá. Aceitei a nomeação como um chamado de Deus e preparei minha bagagem.

Lembro – me bem de minha viagem de ônibus de Santa Catarina para Porto Velho. – Na rodoviária de Porto Velho, o capuchinho Frei Bernardino já estava me esperando para me levar no seu Toyotta para Humaitá. Ele não falava muito na viagem deixando – me tempo para refletir sobre a nova missão. Recordo vivamente como nos aproximamos da cidade, as nuvens ficando sempre mais escuras acompanhadas de trovoadas. Uma Irmã Franciscana de bicicleta, acompanhada de uma turminha, estava nos aguardando. - Diante de minha dúvida como ‘interpretar os sinais dos tempos’ ela me tranqüilizou: É bom sinal, pois precisamos da chuva. Está tudo seco!

A minha história de outubro 2000 para cá, vocês leitores já conhecem, pois fazem parte dela. Bem de propósito costumo iniciar a nossa folha informativa: Diocese em notícias, com as palavras: Irmãos e Irmãs de caminhada... Olho para trás e agradeço a Deus pela intensa presença e a vocês pela companhia rumo ao Reino definitivo.

                                                                             Dom Francisco Merkel


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