No dia 22 de maio p.p. completei, com gratidão, 40 anos de ordenação presbiteral. Foi neste dia que um Bispo auxiliar de Colônia, na Alemanha, veio à nossa comunidade Espiritana em Knechtsteden/ Alemanha, para ordenar nosso pequeno grupo de três diáconos. – Depois da ordenação presbiteral nos dividimos: Um foi para a África do Sul, outro permaneceu na Alemanha, e eu vim para o Brasil. Meu destino era a Prelazia do Alto Juruá que eu conhecia apenas pelos missionários que, durante as suas férias, percorriam os nossos seminários menores, para despertar o entusiasmo missionário nos corações dos adolescentes e jovens.
O primeiro ano (1973) naqueles confins do Brasil não foi fácil para o jovem missionário de 29 anos. Graças a Deus, o Pároco do lugar e eu nos entendemos bastante bem. Além das visitas pastorais, chamadas de ‘desobrigas’ pelo vasto interior, habitado pelos seringueiros com suas famílias, atuamos na vila de Porto Valter: Na formação religiosa e no ensino escolar, no atendimento aos enfermos e na extração de dentes, na criação de animais e numa cooperativa de compra e venda, no cultivo de hortaliças e – por dois anos – na administração de um pequeno seringal... Sofremos com a tarefa de transmitir ao povo, em sua maioria analfabeta, a rica mensagem da Palavra de Deus; despertar a compreensão pelo sentido dos sacramentos e da pertença à nossa Igreja... Mas com o passar do tempo descobri que havia muita gente de fé e de um heroísmo que deixavam o jovem missionário envergonhado. Não há dúvida, o pobre, quando vive profundamente unido a Deus, tem muito a evangelizar. Afinal, é Ele que vive o que nós pregamos: Fé incondicional em Deus e caridade para com o necessitado.
Após outra breve experiência em Eirunepé/ AM, fiquei doente. Veio a transferência para Salete/ Santa Catarina, Diocese de Rio do Sul. Devia ser o diretor do seminário menor dos Espiritanos do Brasil. Muitos adolescentes e jovens de 11 até 23 anos, filhos de colonos de origem alemã, italiana e polonesa, da 5ª série até a conclusão do ensino médio. Foi naquele tempo que conheci as Irmãs Catequistas Franciscanas e as Irmãs Franciscanas do Apostolado Paroquial/ Lages/ SC.
Em princípio de 1983, mudei para Belo Horizonte - Contagem. Na periferia iniciamos a formação filosófica de nossos estudantes. Meu colega holandês ficou responsável pela formação, eu me dedicava mais ao acompanhamento de quatro comunidades. Foi um tempo de intenso trabalho pastoral e – social. Em todas as comunidades criamos um trabalho em prol das crianças, participamos da formação de associações de bairros, construímos capelas e centros, promovemos cursos de formação de leigos com os próprios leigos. Recordo com gratidão àqueles anos 83 - 87.
Os dois anos seguintes me viram na Alemanha. Dentro do plano traçado pelos superiores passei trabalhei em seminários de formação, finais de semana em Paróquias – partilhando experiências pastorais e culturais, suscitando espírito missionário, pedindo apoio para nossas obras. – Foi válido e bom, mas não me satisfez.
Recebi a licença para voltar e começar no litoral da Bahia, próximo de Salvador. No entanto, houve a solicitação para eu acompanhar a vinda de jovens alemães que queriam conviver, cooperar e compartilhar uma vida inserida em outra cultura e outra caminhada eclesial. Aliás, tudo naquele pedaço da Bahia era diferente. Não faltaram dúvidas a respeito do caminho pastoral a escolher. Mas pouco a pouco se estabeleceram amizades com o povo que tornaram aquele tempo precioso em minha história. Importante neste percurso foi, novamente, a presença de Irmãs, entre elas as Franciscanas Marianas Missionárias, que acabaram vinda para a Diocese de Humaitá.
A próxima etapa me levou à cidade de São Paulo. Acompanhamento de sete estudantes de filosofia e colaboração pastoral em comunidades paroquiais da periferia. - Admirei os operários da periferia que, em meio a tantas dificuldades, fizeram nossa Igreja caminhar. Também este foi um tempo de ricas experiências - desta vez junto com meus colegas espiritanos. Como me fez bem! - No final daquele mesmo ano, juntei novamente meus pertences e viajei para Santa Catarina. A nova missão seria o Santuário Nossa Senhora da Salete.
O Morro de Nossa Senhora, 200 metros acima da cidadezinha com o mesmo nome é um lugar muito bonito. Eu estava disposto para ficar lá e levar adiante, junto com um colega, uma pastoral de santuário até que Deus me chamasse. O lugar me cativara. Logo iniciamos a construção de uma bela capela, em forma octogonal. - Poucos meses antes de fazer a entrega da capela, D. José Balestieri, Bispo da Diocese de Rio do Sul me entregou a carta de nomeação para ser seu sucessor em Humaitá. Aceitei a nomeação como um chamado de Deus e preparei minha bagagem.
Lembro – me bem de minha viagem de ônibus de Santa Catarina para Porto Velho. – Na rodoviária de Porto Velho, o capuchinho Frei Bernardino já estava me esperando para me levar no seu Toyotta para Humaitá. Ele não falava muito na viagem deixando – me tempo para refletir sobre a nova missão. Recordo vivamente como nos aproximamos da cidade, as nuvens ficando sempre mais escuras acompanhadas de trovoadas. Uma Irmã Franciscana de bicicleta, acompanhada de uma turminha, estava nos aguardando. - Diante de minha dúvida como ‘interpretar os sinais dos tempos’ ela me tranqüilizou: É bom sinal, pois precisamos da chuva. Está tudo seco!
A minha história de outubro 2000 para cá, vocês leitores já conhecem, pois fazem parte dela. Bem de propósito costumo iniciar a nossa folha informativa: Diocese em notícias, com as palavras: Irmãos e Irmãs de caminhada... Olho para trás e agradeço a Deus pela intensa presença e a vocês pela companhia rumo ao Reino definitivo.
Dom Francisco Merkel
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